domingo, maio 03, 2009

Identidade Nacional
"As declarações de Obama ratificam a tese de que Lula já entrou no tema do anedotário internacional". Ronaldo Caiado (GO), Líder do DEM na Câmara dos Deputados.
A notícia, em si, é mais que batida. Além disso, informo que nunca me atrevi a informar (ou enformar, talvez seja mais cabível). Mas a citação epigrafada merece, como algumas outras sobre o mesmo tópico, algum comentário, qualquer que seja, ainda que todos saibam que de uma página de blog dificilmente sairá uma ação efetiva a se contrapor ao fato.
Divagações à parte, vamos ao fato: a exato um mês, na quinta-feira, 2 de abril, em Londres, na reunião do G20, Obama elogiou Lula, afirmando que aquele era o cara, que gostava muito dele, e que ele era o presidente mais popular do mundo.
Bom, nada demais no fato, alem da efusividade do presidente americano, até compreensível ante ao fato de serem os dois (Lula e Obama) representativos - pesem todas as ponderações que possam ser feitas - de uma mudança social em seus países como ascensão de figuras jamais vistas no poder - um torneiro mecânico e um negro. Mas, ainda assim, um fato normal: um chefe de Estado, ainda que em tom descontraído, cumprimentando outro, com quem guarda forte aliança política e sobre quem têm interesse estratégico.
O que é de todo estranho é a repercussão, não porque já não se fosse de esperar, mas estranho no sentido de incompreensível. Ora, o chefe do executivo brasileiro é dito o presidente mais popular do mundo, pelo chefe do império e tudo que se faz é dizer que se trata de uma anedota, ou que o presidente não entendeu o elogio porque não fala inglês e isto demonstra o baixo nível da escolaridade do país?
É incrível a perpetuação do sentimento colono no Brasil: temos, ao que parece, a necessidade de nos reportar à cultura alheia, temos que nos adequar aos mandamentos da metrópole, pois que somos todos incapazes de trilhar um caminho próprio.
A politica externa do torneiro mecânico, semi-analfabeto, sem dedo, e mais todas as asneiras que dizem, em 500 anos, frise-se, é a primeira que democraticamente, mantendo as relações Estatais e empresariais estáveis, se impõe soberanamente. Reportou-se ao mundo, não com a subserviência costumeira, aproximou-se da África e da América Latina, se firmando como liderança nesta região (ao que os Amletos Ferreiras diriam se tratar de tarefa fácil, talvez porque o parco, na metáfora de Saramago, só Veja, e nada enxergue...)
A mesma política, internamente, dá carta branca à PF, mesmo quando isso significa perdas de seus próprios soldados (e muito embora, o poder judiciário - notadamente o Supremo - se constitua num retrocesso, v.g. os desdobramentos da Operação Satiagrarah), distribui renda, mantém uma política creditícia, em que pesem todas as críticas, evitou a inflação e ainda maiores reflexos da crise mundial nos domínios internos, dentre diversos outros atos que revelam um projeto de transformação do País, ainda que hajam criticas e que sejam procedentes.
Porém, nada disso é efetivamente noticiado e discutido. É mais valioso depredar, depreciar, corromper: afinal se o modelo pega, quantas e quantas benesses se perderão, quantos privilégios engendrados em 500 anos se diluirão? Não haverá mais uma mão de obra barata, que possa ser exporada em aliança ao capital internacional, dando um lucro imediato e pequeno, considerando o que sai do país; não haverá mais uma estrutura fundiária, que permita a exportação de grãos a baixo custo, enquanto a população morre à mingua, sem um mercado interno que realmente as alimente; muito não haverá, se, com distribuição de renda, em paralelo a um plano de reestruturação educacional e, pois cultural, se valorize a identidade nacional, e dentro a representação da imagem da capacidade que tem um nordestino, torneiro mecânico, de, sim, se tornar o presidente mais popular do mundo, ser reconhecido por isso e respeitado por isso, ainda que no seu próprio País haja quem não SE respeite.

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